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J.R. Pereira

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Método de Criação

09/01/2010 23:48

Cada escritor tem um jeito especial de organizar-se e de trabalhar. Eu já conheci os mais variados métodos: da anotação mais simples ao "despirocar" sem sentido em direção a coisa alguma.

Eu sou um pouco assim.

Eu não sei ao certo onde nascem minhas idéias. Minha mente é um caldo tortuoso que se transfere de lado a lado, indo e vindo por memórias, comentários, cenas passadas e presentes, com alguns delírios sobre o futuro provável... Ou nem tanto.

Faço meio que uma espécie de transe diário. Abstraio o Real, mergulho no meu isolamento meditativo, as vezes regado a música (agora ouço um suave musak japonês), as vezes regado a cigarro, cerveja ou Coca-Cola (parei com o vinho, me entorpecia demais).

Mas nessa tempestade criativa, deixo-me guiar por uma bússula fiel e companheira inseparável: meu coração. Com ele sigo para caminhos indecifráveis e que só posso ir sozinho, sem ninguém, solitário mas no controle nem sempre firme de uma nau chamada Existência.

Em dado momento ocorre um "click". Param-se as máquinas, ouço o sino do coração que, atento, manda-me parar. Chama-me a atenção pois ali está algo que deve ser visto. Bati com meu navio meditativo numa pedra, num meteoro, num rochedo ou o que for. Paro a navegação e filtro aquilo que a minha mente filtrou do torvelinho. Porém, antecipadamente, na velocidade da Luz da mente, eu já sei que o que vem lá é bom.

Quase sempre é. Pois antes de trazer a bordo, o objeto detectado passa por filtros e mais filtros de "qualidade", que retiram a sujeira e fazem a idéia ser polida, adequada, comprimida, esticada, colocada em escaninhos de todos os tipos, talvez descartada mas sempre arquivada, sempre guardada. Ou, não raro, lançada de novo ao oceano da Imaginação, só para ver se ela volta mais enriquecida com os sais minerais do Caos.

Porém, uma pequena parte das idéias são preciosas demais para serem descartadas. Essas fazem o coração apitar, quase a ponto de explodi-lo de alegria quando as encontra.

Daí, eu as separo. Analiso, catalogo e pondero sobre sua anexação ao corolário de meu trabalho. É uma fase delicada pois preciso tomar cuidado para que esta nova idéia não venha a desestruturar o "pontilhismo" complexo que imaginei para meu trabalho. Pois, caso não saiba, saiba agora: tudo o que escrevo, crio ou divulgo faz parte do mesmo "universo criativo". Meu trabalho não pode ser dividido em uma coisa só. Não sou de escrever um livro único pois acho isso... Sórdido. Pois a minha Arte sou eu como um todo, é parte de mim: simples mas singela, complexa mas entrelaçada com cada personagem como que (nasc)sendo e pertencendo a uma parte fanatsmagórica de mim.

Ao anexar essa idéia ao meu mosaico pontilhado de estrelinhas, que posso dizer que são "migalhas de pão" que me levam para dentro da floresta do inesperado...

Devo finalmente sentar aqui na frente do computador e escrever. Sei para onde devo ir, sei onde devo chegar mas, francamente, não sei o que vou encontrar.

Mais fácil mostrar que comentar: ainda onte eu escrevia sobre um outro personagem meu, o Lucas e sua origem como Senhor Idílio. O Senhor Idílio pode conversar com as máquinas. Como todas elas. Eu tive um sonho, noite retrasada, em que um rádio de pilha me pedia para ser consertado. Pois o rádio era essencialmente bom, como o é toda máquina pois ela foi criada para servir (já o ser humano foi criado para ser livre, sem jamais o realmente ser).

Juntei a idéia do sonho, que considerei magnífica, à história e comecei a escrever o primeiro capítulo, seguindo pela mata densa da criação...

E eu suspeitava onde deveria ir, o que deveria mostrar e assim tentei ser.

Tentei. Mas a história, ao ser escrita, vira outra. Vou tentar ir por ali mas quem manda não sou eu! Sou um mero passageiro, um pequeno observador que fica sobre os ombros dos personagens e que vai dizendo a você, leitor, o que está acontecendo. E o personagem é um "ser vivo", alimentado pelo inesperado, pelo absurdo, pelo inconsequente, pela visualização da união entre meu Consciente (que guia) e o Inconsciente (que surpreende).

O personagem, então, desanda a ter "vida própria". Exibe-se e constroi-se perante mim, este pobre observador. Em dado momento, o que vejo vai contra minha "programação". Desconfio de estar tomando um caminho errado e penso em voltar quando... Meu coração determina: vá em frente!

E vou.

Para onde? Não sei. Lá longe sei onde o Senhor Idílio quer chegar, sei o que ele quer ser e o que quer fazer. Mas como ele fará para chegar até lá... Isso é com ele, não comigo.

Com o Mil Nomes foi a mesma coisa. A história dele não se encerra enm em um, nem em todos os livros do mundo. Ele deixará de ser meu ao ser lido por você. Ele estará consigo nem que seja por uns breves momentos.

Com sorte, ele pegará sua mão e te guiará parao meio de uma mata divertida, onde o inesperado acontecerá.

Tanto a ele, quanto a você e especialmente a mim.

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