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A Criação de Mil Nomes

20/09/2009 23:05

O Mil Nomes não nasceu do nada. Ele é resultado de um longo processo meditativo em que eu me buscava conhecer.

Eu ia atrás de minhas origens mesmo, o que me fez ser o que sou hoje. E, nesse processo, ele nasceu.

Mas por ser um personagem infantil, obviamente que ele foi "oficialmente" concebido a partir de várias influências de minha infância.

A primeira dela são os desenhos animados japoneses, os famosos animes.

Eu era um menino muito introspectivo e sozinho. Frequentar escola (que sempre odiei), tinha vários amigos e eta membro uma grande e festeira família.

Mas eu não me sentia "pertencente" a tudo aquilo, sacou? Eu estava lá mas... não estava. Até hoje eu tenho esse sentimento, de ser um "outsider", um estranho numa terra estranha.

Quase tudo me causava aborrecimento, as pessoas eram complicadas, a família meio "selvagem", amigos estranhos...

E nos poucos lugares em que eu me sentia bem e "confortável" era assistindo animes. Eu era fascinado pela produção japonesa por ela ser diferente e, quase sempre, estar mais próxima de mim do que as coisas do "ocidente". Por isso, sempre que passava algo do Japão na TV, eu assistia.

Porque os animes eram dinâmicos, cheios de ação e aventura, romance, sensualidade, bem distante das produções estadunidenses, caretas e conservadoras, quase áridas. Não haviam sentimentos de "verdade", os personagens eram muito simplórios, eu quase nunca me identificava com eles (a não ser com Johnny Quest).

E os desenhos gringos raramente apresentavam crianças como personagens principais. Esse era um fator determinante na criação de minha afeição e empatia pelas produções japonesas pois nessas a criançada usava armas de fogo, matava bandidos ou o herói abria o monstro no meio! Legal!

Ao mesmo tempo, eu adorava as músicas estranhas dos animes (incompreensíveis por motivos óbvios), os efeitos sonoros diferentes e o design dos personagens únicos. Não havia nada igual mesmo.

Um desses animes que me marcou prá caramba era Marine Boy. Exibido pelas TVs Tupi e Bandeirantes nos anos 70, neste anime mostrava-se um menino (herói!) que respirava debaixo da água e que, montado em seu golfinho e na companhia de uma sereia, auxiliavam a Patrulha Oceânica, responsável pela guarda dos oceanos contra diversos tipos de bandidos. Marine Boy tinha, ainda, a ajuda do pai, um cientista que lhe fornecia equipamentos especiais como, por exemplo, um bumerangue sônico, botas a jato e um chiclete que lhe permitia respirar na água. Quer coisa mais simples e bacana que isso? O Marine Boy era o herói perfeito pois não dúvidas, sem vacilos. Não que ele fosse infalível! Pelo contrário, ele estava debaixo d'água e poderia ficar sem respirar a qualquer momento! Essa tensão da história rolava escondida no roteiro e só bem depois eu fui perceber que esse fator foi preponderante para que eu me apegasse à coragem do personagem. E a trilha de abertura era esquisita prá caramba!

 

Outro desenho bastante marcante para mim foi Príncipe Planeta: Membro do Corpo da Paz Celestial, Príncipe Planeta é enviado à Terra para auxiliar na luta contra as forças do mal. Para tanto, ele poderia ser um menino comum como um super-guerreiro espacial, podendo se transformar ao usar a energia de seu medalhão cósmico. Diferente de Marine Boy, Príncipe Planeta estava sempre de cara feia (olha a foto dele aí!). Ele era um "bad boy" mas com bom coração. Sua transformação era na base do grito (o que eu adorava, parecia que ele seria pulverizado com tanto poder!) e ele não tinha lá muito os pudores de justiça e bondade como seu colega submarino.

Eu acho que o grande lance do Príncipe Planeta era sua vontade de impor a ordem nas coisas. Ele era um militarista mesmo, um soldadinho pertencente a um grande grupo e que, por ser de um planeta "superior", já sabia de antemão que a certeza estava com ele e ai de quem abrisse o bico prá reclamar! (risos)

Ele captou bem o espírito da época, ele ia prá cima do Mal e quem não concordasse virava farelo. Por muito tempo eu pensava que nem ele. Mas aí veio outro personagem...

...chamado Super Dínamo. O Super Dínamo foi fundamental para a concepção do Mil Nomes por vários motivos: era um menino comum que ganhou de uma entidade superior algumas armas mágicas que o possibilitavam ser um super-herói. Só que ele vivia dividido entre os dois mundos. Ele não podia equilibrar completamente sua missão de proteger as pessoas, ao mesmo tempo que tinha que ser um menino.

Os seus problemas era constantes: a mãe tirana, a irmã pentelha, o pai meio ausente, os colegas xaropes, a menininha que ele gostava mas não lhe dava bola, a escola que mal lhe ensinava... E mesmo os colegas do seu grupo de super-heróis também lhe causavam problemas. Sem falar que as pessoas que ele ajudava nem sempre correspondiam com gratidão aos seus atos de heroísmo! Eram mal agradecidas mesmo! Ou seja, ele praticamente só se ferrava e eu curtia muito quando ele tinha seus momentos de alegria, voando pela cidade, sozinho. O Super Dínamo me mostrou o lado mais humano dos super-heróis e todas as dificuldades e responsabilidades que haviam no exercício do heroísmo. Ele não era resolvido que nem o Marine Boy e nem destemido feito o Príncipe Planeta. Ele as vezes covarde e só apelava para a valentia quando não tinha outro jeito.

Esses três personagens foram as pedra fundamentais da criação de Mil Nomes pois, em todos os casos, eu gostei muito de todos eles, aprendi muito com eles e me identifiquem a transcendência, a abnegação e as dificuldades que eles tinham ao lidar com suas condições. Em cada um deles eu identificava meus próprios dramas e questionamentos, e foi uma consequência natural eu usar essa massa de idéias na criação do Mil Nomes.

Pode parecer pueril num primeiro olhar, mas a premissa de Marine Boy, Príncipe Planeta e Super Dínamo ficaram "rodando" em minha mente por anos e anos. Eu achava-os fascinantes pois, de um jeito ou de outro, eu via, neles, muito de mim. E, não posso negar, eles foram importantes na construção de meu auto-conhecimento.

Mas é importante deixar registrado que meu carinho por eles e a alegria que eles me proporcionaram em minha infância perduraram até hoje, quase 40 anos depois. Eles me faziam pensar ao mesmo tempo que me divertiam, uma coisa que o Scooby Doo, por exemplo, jamais fez.

Só que esses personagens tão queridos... Morreram. Acabaram. As séries foram canceladas, nenhuma TV se interessa em exibi-los e nunca sairão em DVD no Brasil. O tempo deles acabou e eles estão praticamente sem dono. Reduziram-se a mera sucata "pop". Mas eles ainda existem em minha mente e existem no Mil Nomes... Pelo menos em essência.

Dessa forma, por gratidão e apreço, eu tinha que homenagea-los (leia-se "recicla-los") de alguma maneira, ou quem sabe seguir-lhes os passos em termos criativos. Eles inspiravam muitas idéias legais em minha imaginação... E fiquei pensando neles por muito tempo, sem que eu lhes conseguisse dar uma "cara".

Porém, enquanto eu rascunhava meus livros da série Elementais (um outro projeto que venho trabalhando a mais tempo que o Mil Nomes), e após desenvolver o personagem Pedro, aconteceu uma coisa.

Eu já havia criado o universo, digo, o "palco" de atuação dos Elementais. Já estava tudo definido. Foi um trabalho muito grande para mim, era algo que eu nunca havia conseguido antes e fiquei muito orgulhoso de mim mesmo por isso. Esse momento me estimulou a trabalhar com uma idéia pequenininha que andava "zumbindo" pela minha cabeça.

Era a idéia de fazer um personagem que fosse uma "derivação inspirativa" do Marine Boy, Príncipe Planeta e o Super-Dínamo. Havia essa sementinha correndo pela minha cabeça até que, sem maiores pretenções, criei o desenho do Mil Nomes (mesmo que, na época, ele não tivesse nome pois era apenas um conceito vago de super-herói mirim. Ele se chamava "Estelar").

Mas faltava o "start". Faltava o pano-de-fundo, o Universo para atuar, da mesma maneira que o Pedro já tinha.

Então, um dia, eu assisti, no canal Locomotion, atual Animax, um desenho animado que me serviu de inspiração definitiva para a criação do universo do Mil Nomes.

Era o desenho Phantasmagoria: 

 

Pronto! A peça se encaixou!

Estava tudo ali!

Tudo o que eu precisava veio de uma vez só! Criei, graças ao Phantasmagoria, todo o conceito do Supra-Mundo: mentes humanas ou não, vistas como pequenos planetas onde um personagem livre e completamente móvel poderia viver suas aventuras. Planetinhas, planetas e planetões, coisas estranhas, enfim, tudo deslanchou na minha cabeça de tal maneira que consigo ver cena a cena.

Criei, afinal, o palco para o Mil Nomes... E todos os demais universos paralelos em que a história se desenrola.

Como É Que Você Chegou Às Esposas do Mil Nomes?

Ah, isso é muito legal! Olha só!

Eu já havia criado o Mil Nomes. Sabia que ele seria assim e assado. E já tinha seu universo, universos paralelos, etc. Beleza.

Mas faltava lhe dar um grupo de apoio, né? Alguns personagens que lhe servissem de apoio no desenrolar da trama.

Só que eu não queria fazer aqueles personagens bobos e comuns de sempre. Nos animes, normalmente os personagens de apoio são meio que mal bolados, mal desenvolvidos mesmo, superficiais. Eu queria alguém que fosse especial, bem íntimo dele e que eu me sentisse confortável ao explorar todos os dramas que o Mil Nomes teria com eles.

Já que eu estava livre prá criar o que bem entendesse, me dediquei a pensar na namoradinha dele, sua companheira. Afinal, o que é um mocinho sem uma mocinha, né?

Mas não pintava idéia nenhuma prá servir de base prá personagem aparecer.

Foi então que eu ouvi no rádio uma palestra do Gasparetto! Sim, eu ouço aquele menino serelepe! Discordo de muita coisa que ele diz, mas eu curto prá caramba a retórica mística dele. E ele é engraçado! Um místico engraçado é uma coisa bastante rara.

Numa hora o Gasparetto estava falando sobre a Vida. E ele fala, fala, fala... Até que soltou uma boa: que a Vida é um "ser vivo".

Pronto! Foi como se eu tivesse recebido uma tijolada! Abriu-se a porta de esperança (risos) e a Prahna nasceu completinha. Os cabelos, o formato do corpo, as mãos, os olhos, o Terceiro Olho, até sua nave em forma de crisântemo veio assim, pum! De uma vez! Afinal, se o Mil Nomes já tinha morrido, ele teria que encontrar alguns deuses, né? Daí a deusa da Vida e tals.

Mas beleza. Essa foi a Prahna. Sua "mentora espiritual", digamos assim. Não é bem isso mas serve.

Eu comecei a escrever a história do Mil Nomes. Era época em que havia caído aquele avião da TAM na cabeceira do aeroporto de Congonhas. Foi aquele fuá sempre, imprensa, TV, o escambau. Mas ai me lembrei de outro jato da TAM que havia caído no Jabaquara e que estava (e está) esquecido. Achei que seria legal fazer com que o Mil Nomes tivesse um envolvimento com um acidente desse tipo. Não sei porque mas...

Eu não sabia o que fazer com a idéia mas achei que ela mereceria um "investimento": fiz um laboratório, ou seja, fui até a rua onde caiu esse avião. Tirei fotos, fiz um filminho, colecionei recortes de jornais, enfim, eu me "ambientei" com o acidente. Ficou legal, me deu um pedal ótimo prá história.

A medida que a história avançava, em dado momento eu me lembrei desta foto que tirei no lugar:

Tá vendo ali no meio da cena? Essa parede preta restou da queda do avião. Os caras não pintaram e nem reformaram nada, deixaram assim, um monumento silencioso à queda.

Eu olhei prá esse lugar um tempão e a foto ficou guardada em minha memória. Foi impressionante. Mas ao olhar para o contraste da parte chamuscada em relação ao céu azul, tive a inspiração de fazer uma personagem que saisse e andasse por entre esses dois limites.

Uma personagem que pudesse caminhar entre os extremos, que tivesse conhecido a Vida mas que tivesse mais intimidade com a Morte. E já que a Prahna era a Vida, o Mil Nomes precisava de alguém que pudesse lidar com a Morte. Foi dessa maçaroca de idéias, e de uma ilustração que a patroa fez, que nasceu a Ka Lan, a minha deusa da Morte.

 

Mas porque uma personagem chinesa, já que você gosta tanto do Japão?

Eu gosto do Japão, de fato. É minha segunda pátria (e muitas vezes a primeira, porque o Brasil é foda). Mas eu sempre tive um carinho especial pela China, pela sua cultura, culinária e, claro, os filmes de kung fu! E, recentemente, comecei a conversar pelo MSN com uma gentil chinesa, a Aimee. Conversa vai, conversa vem e quando percebi, já estava puxando papo com os chineses das lojas, super-mercados e de um boteco aqui perto de casa!

Ao mesmo tempo, a Ka Lan me abriu possibilidades muito legais de abordar assuntos como a Segunda Guerra e a participação japonesa na invasão de Hong Kong. Acho importante não ficar idolatrando o Japão como se ele fosse a coisa mais linda do mundo. Ele tem seus problemas, tem seus pecados e acho que a Ka Lan pode abrir as portas para essa minha abordagem.

Ao mesmo tempo, eu posso trabalhar com dois extremos de personalidades; a Prahna é toda meiga, boazinha, um doce de menina e apaixonada pelo Mil Nomes. A Ka Lan é o contrário, é grosseira, brava, cínica mas também adora ele. São opostos mesmo mas o fator que as une é o amor incondicional pelo Mil Nomes e tudo o que ele representa para elas.

E o que seria isso? Leia o livro prá saber, ora!

 

Mas Espere Aí! Elas São ESPOSAS do Mil Nomes? Explica Isso!

Entenda uma coisa: eu não estou fazendo um livro convencional. Não estou criando personagens e situações convencionais. Eu sigo uma linha criativa bastante ousada, bastante diferente e que se baseia, também, nas premissas da criação japonesa onde a caretice não tem vez.

E eu tenho uma abordagem especial de como seria o "pós vida". Não me refiro aos ditames religiosos nem nada, eu explico a MINHA visão dentro do universo criativo em que estou trabalhando.

O Mil Nomes faz parte de uma guilda de deuses que se baseiam num relacionamento a três. No livro eu os chamo de Ternário Sagrado porque são entidades que simbolizam a Vida, a Morte e o Homem. Mas o Homem no sentido do descobrimento, do mistério, do crescimento individual e, claro, pelo exercício da força mais poderosa de todas dentro do universo deles: o amor.

Eu usei o termo "esposas" não no sentido deles estarem casados matrialmente, mas por comunharem de um amor acima e além de toda e qualquer dúvida. Pois no (meu) pós-vida eu não acredito que o convencionalismo humano e as normas sociais possam ser aplicadas.

Pois os personagens estão livres! Eles gozam de uma liberdade completa pois, primeiro, são auto-suficientes. Não precisam prestar satisfações a ninguém, a nenhuma autoridade, a não ser suas próprias Consciências. E esta Consciência acessa as diversas vidas passadas que eles tiveram e, dessa forma, eles não são capazes de cometerem os erros de seguirem normas que lhes prejudicaram ou impediram o amor fluir.

E, dentro da premissa da história e do "cargo" que os personagens são, é natural que essa união seja consumada em forma de casamento mesmo.

Só que nem os deuses tem relacionamentos perfeitos pois, afinal de contas, eles ainda tem muito dos humanos. Mil Nomes, Prahna e Ka Lan tem sérios problemas de ordem pessoal e tem que acertar certas... Ahn... "Dificuldades de relacionamento" e seus fantasmas do passado que costuma voltar para lhes atormentar.

Eles são 3 indivíduos que, juntos, fazem uma unidade mágica, e essa unidade só se completa pela entrega e união de corações e mentes. Ou seja, estou me baseando em alguns preceitos "Espíritas" mas acrescentando a minha imaginação no meio.

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